De novo:
as palavras...
Ponho
palavras em cima da mesa; e deixo
que se
sirvam delas, que as partam em fatias, sílaba a
sílaba,
para as levarem à boca – onde as palavras se
voltam a
colar, para caírem sobre a mesa.
Assim,
conversamos uns com os outros. Trocamos
palavras;
e roubamos outras palavras, quando não
as
temos; e damos palavras, quando sabemos que estão
a mais.
Em todas as conversas sobram as palavras.
Mas há
as palavras que ficam sobre a mesa, quando
nos
vamos embora. Ficam frias, com a noite; se uma janela
se abre,
o vento sopra-as para o chão. No dia seguinte,
a mulher
a dias há-de varrê-las para o lixo.
Por
isso, quando me vou embora, verifico se ficaram
palavras
sobre a mesa; e meto-as no bolso, sem ninguém
dar por
isso. Depois, guardo-as na gaveta do poema. Algum
dia,
estas palavras hão-de servir para alguma coisa.
Nuno
Júdice