(Uma semana)
Um dia não era cabonde; mas uma semana.
Se fosse rei uma semana, afianço-lhes que mondava Portugal.
Uma fogueira em cada outeiro para os ministros, os juízes,
os escrivães e os doutores de má morte.
Para estes decretava ainda cova bem funda, com obrigação de
cada homem honrado lhes pôr um matacão em cima.
Uma choldra de ladrões!
Imaginem Vossorias que um pobre já nem uma bestinha
pode ter!
Muito tempo conservei aquele cavalito fouveiro – lembram-se?
– para me ajudar a espairecer saudades
dos tempos em que corria de almocreve Ceca e Meca e olivais de Santarém.
Vai senão quando, António Malhadas, salta de lá com nove
tostões de sumptuária.
Irra, novecentos réis por um cavalicoque, um chincaravelho
que não valia, a bem dizer, os guizos dum gato!
Raios partam o Governo mailos governados, raios partam tanto
tributo com que a gente de bem tem de ustir para andar aí meia dúzia de
figuröes, de costa direita, mais farófias que pitos calçudos!
Raios partam!
O governo é um corpo da guarda que nos defende ou é a
quadrilha do olho vivo que não faz senão roubar?
Quem lhe encomenda o sermão?
AQUILINO RIBEIRO
O Malhadinhas
(1958)
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(*) Há outros extractos aqui, do Malhadinhas:
Um glossário da mesma obra, útil, apesar de alguns erros:
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