8.5.18

Jesús Aguado (Tudo o que dizemos)






Todo lo que decimos inaugura distancias,/
estructura de modo distinto lo
que somos/ y nuestra relación
con lo que existe,/ cambia  de
decorado y cambia de guión,/
modifica el sentido de las
leyes/ y nos hace asumir
actitudes y fines/ que antes  ni
siquiera imaginábamos.

Por eso las palabras nos
escriben,/ es decir,  nos
tornean, nos labran,  nos
dibujan./ Para ser más
exactos:  las palabras,/  lejos de
ser  pasivos  instrumentos/   en
nuestras   manos,  son  gigantas
poderosas/ (desde aquí puedo
ver el grosor de sus músculos,/ sus ojos
inyectados, la determinación/
que demuestran   sus   gestos)
que nos usan/ como  materia
prima para hacerse sus casas.

Las palabras  nos hablan, las
palabras/ nos habitan.  Por eso
decir lo que nos  dice/ (o
hablar lo que nos  habla, callar
lo que nos calla,/ escribir lo
que escribe nuestra vida)/ es
mucho más que un acto/  de
aceptación de la existencia;
es/ poner una semilla  en la
palabra/  para que diga lo que
somos; es/ seducir la palabra y
penetrarla/ para que  nos
alumbre y nos lleve a su casa:/
y  nos lleve a una casa que es la
nuestra.

Frente a todos aquellos/ que
están donde no están y  no
están donde están,/ frente  a
todos aquellos que al  vivir/ en
una  casa ajena en realidad/
habitan una cárcel,/ la poesía
y el amor nos hacen/   libres
para elegir una casa y un
mundo/ y nos dejan abiertos
para ser elegidos/  por la casa y
el mundo que elegimos.

Y cuando  afirmo «todo lo   que
decimos» quiero/  decir la que
decimos  con sentido:/  aquello
que se dice por medio de
nosotros/  (la poesía y  el amor,
la luz/  y los  bosques  y  el mar,
la nada y el  olvido...),/ aquello
que bautiza  las medidas del
mundo/ (rediseña la planta de
la  casa),/ aquello que le da al
mundo otra  apariencia/  sin
por ello impedir que siga
intacto,/ aquello, en fin, que
afirma la que es/  en vez de
destrozarlo,  de ignorarlo,/ de
pasar a su lado con  los ojos
borrándose.

Jesús Aguado



Tudo o que dizemos inaugura distâncias,/
estrutura de outro modo aquilo que somos/
e a nossa relação com aquilo que existe,/
muda a decoração e muda o guião,/
modifica o sentido das leis/ e faz-nos
assumir atitudes e fins/ que antes nem
sequer imaginávamos.

Por isso as palavras nos escrevem,/
quer dizer, nos torneiam, nos lavram,
nos desenham./ Mais precisamente,
as palavras,/ longe de serem passivos
instrumentos/ nas nossas mãos,
são gigantes poderosos/ (posso ver-lhes
daqui a espessura dos músculos,/
os olhos injectados, a determinação/
que exibem nos gestos) que nos usam/
como matéria-prima para fazer as casas.

As palavras falam-nos, as palavras/
habitam-nos. Por isso dizer o que nos diz/
(ou falar o que nos fala,/ escrever o que
nos escreve a vida)/ é muito mais do que um acto/
de aceitação da existência; é/ pôr uma semente
na palavra/ para que diga aquilo que somos; é/
seduzir a palavra e penetrá-la/ para que
nos ilumine e leve a casa.

Face a todos aqueles/ que estão
onde não estão e não estão onde estão,/
face a todos aqueles que ao viver/
numa casa alheia na verdade/ vivem
numa prisão, / a poesia e o amor fazem-nos/
livres para escolher uma casa e um mundo/ e
deixam-nos abertos para sermos escolhidos/
pela casa e pelo mundo que escolhemos.

E quando eu afirmo ‘tudo o que dizemos’
quero/ dizer o que dizemos com sentido:/
aquilo que se diz por meio de nós/
(a poesia e o amor, a luz/ e os bosques
e o mar, o nada, o esquecimento…),/
aquilo que baptiza as medidas do mundo/)
redesenha a planta da casa),/ aquilo que dá
outra aparência ao mundo/ sem impedir
com isso continuar intacto,/ aquilo, enfim,
que afirma aquilo que é/ em vez de o destroçar,
de o ignorar,/ de lhe passar ao lado
cerrando os olhos.

(Trad. A.M.)
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