DESCARGAS
ELÉCTRICAS
Las palabras producen
sacudidas eléctricas. Son
como enormes trallazos
fustigándonos
dentro, fogonazos, calambres:
son descargas de luz
que fulminan la nada. Ahora, a
oscuras
de nuevo, como quien se
zambulle, entro en ti,
muy despacio –otra vez
lentamente– para que me
ilumines, para tocar el fondo
de las cosas. El todo que es
colmo
de la nada; el incendio, el
incendio:
nuestra vida una en llamas, sólo
un
electroshock, un espasmo
sin fin, cables de alta tensión
elevados al viento.
Somos estos que crujen
en palabras, palabras
que son campos minados, son
neuronas
hirviendo, filamentos de lumbre,
material
radiactivo que nos toca de
frente.
El profundo sabor
de la carne a la brasa; esta luz
que nos dice
y ha dejado una flor: deja flores
de plástico
floreciendo entre escombros. En
vida abierta,
vieja, herida
nuevamente, la palabra
surgiendo, la palabra
nombrándonos, entre el ser y la
nada, el ruido
y el silencio, la inexistencia y
el vacío.
Adolfo Cueto
As palavras produzem
choques eléctricos. São
como chicotadas a fustigar-nos por dentro,
chamaradas, espasmos: são descargas de luz
que fulminam o nada. Agora, às escuras
de novo, como quem se esconde, eu entro em ti,
devagarinho – outra vez
lentamente – para que me ilumines, para tocar
o fundo das coisas. O todo que é cume
do nada; o incêndio, o incêndio,
nossa vida em chamas, só um electro-choque,
um espasmo sem fim, cabos
de alta tensão erguidos ao vento.
choques eléctricos. São
como chicotadas a fustigar-nos por dentro,
chamaradas, espasmos: são descargas de luz
que fulminam o nada. Agora, às escuras
de novo, como quem se esconde, eu entro em ti,
devagarinho – outra vez
lentamente – para que me ilumines, para tocar
o fundo das coisas. O todo que é cume
do nada; o incêndio, o incêndio,
nossa vida em chamas, só um electro-choque,
um espasmo sem fim, cabos
de alta tensão erguidos ao vento.
Somos estes que crepitam
em palavras, palavras
que são campos minados, são neurónios
fervendo, filamentos de lume, material
radioactivo que nos toca de frente.
O profundo sabor
da carne esbraseada; esta luz que nos diz,
deixando uma flor, flores de plástico
florescendo entre escombros. Em vida aberta,
antiga, ferida novamente,
a palavra surgindo, a palavra
a nomear-nos, entre o ser e o nada, o ruído
e o silêncio, a inexistência e o vazio.
em palavras, palavras
que são campos minados, são neurónios
fervendo, filamentos de lume, material
radioactivo que nos toca de frente.
O profundo sabor
da carne esbraseada; esta luz que nos diz,
deixando uma flor, flores de plástico
florescendo entre escombros. Em vida aberta,
antiga, ferida novamente,
a palavra surgindo, a palavra
a nomear-nos, entre o ser e o nada, o ruído
e o silêncio, a inexistência e o vazio.
(Trad. A.M.)
.