Tiraram-lhe finalmente o gesso na consulta em Lisboa, e um
médico mal-encarado fez-lhe doer, rabiscou uma receita enfadada e ordenou-lhe,
ríspido, que voltasse ao hospital daí a um mês.
Gustavo quis saber se ficaria a coxear; "logo se
veria".
Esperara horas pela consulta, a ver desfilar uma mostra das
misérias de Lisboa, entre ruidosas famílias ciganas, velhotas lisboetas que
parlapiavam compulsivamente e jovens de olhar esquivo que premiam teclas de
telemóvel, num alvoroço de ruídos electrónicos.
Marta ficara de recolhê-lo mais tarde, à porta do hospital,
e acabar por vir fazer-lhe companhia na sala apinhada, com aspecto de apeadeiro
de autocarros, de assentos de plástico vermelho costas-contra-costas, dominada
por um televisor numa peanha de plástico, saturado de cores, sempre ligado no
canal de televisão mais rasteiro.
MÁRIO DE CARVALHO
A Sala Magenta-X
(2008)
A Sala Magenta-X
(2008)
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