16.9.17

Mário de Carvalho (Hospital)





Tiraram-lhe finalmente o gesso na consulta em Lisboa, e um médico mal-encarado fez-lhe doer, rabiscou uma receita enfadada e ordenou-lhe, ríspido, que voltasse ao hospital daí a um mês.

Gustavo quis saber se ficaria a coxear; "logo se veria".

Esperara horas pela consulta, a ver desfilar uma mostra das misérias de Lisboa, entre ruidosas famílias ciganas, velhotas lisboetas que parlapiavam compulsivamente e jovens de olhar esquivo que premiam teclas de telemóvel, num alvoroço de ruídos electrónicos.


Marta ficara de recolhê-lo mais tarde, à porta do hospital, e acabar por vir fazer-lhe companhia na sala apinhada, com aspecto de apeadeiro de autocarros, de assentos de plástico vermelho costas-contra-costas, dominada por um televisor numa peanha de plástico, saturado de cores, sempre ligado no canal de televisão mais rasteiro.


MÁRIO DE CARVALHO
A Sala Magenta-X
(2008)

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