MUDANZAS
1
Hay una madre gritándole a su
hijo.
Hay un portazo, un gemido, dos
silencios.
Los pasos de un viejo en el
pasillo
marcan el tiempo, más que los
ruidos del ascensor.
Un teléfono inconsolable suena
en un departamento donde nadie
quiere atenderlo.
Alguien tira la basura como si
de algo se salvara.
2
Poco va quedando de mí.
En cada mudanza
dejo algo atrás, a veces con
olvido,
a veces con algo de solemnidad.
Y me instalo apenas
como polvo sobre un piso sin
amueblar
listo para cuando sea el momento
de dejar mi nueva casa.
Pero hay veces que tardo en irme
y como ropa en un cajón, me
acumulo,
empiezo a vivir casi sin
enterarme,
tapo las humedades, pinto,
traigo una cama.
Para cuando llega la señal de
que debo partir,
limpio en serio, ordeno, barro y
, si hace falta
cambio las cosas de sitio
para ver si acaso éste se
parece, si puede haber sido
aquel sitio que no quise dejar
la primera vez.
3
¿Dónde estoy?
¿Dónde estoy?
Hace tanto frío y estoy
inquieto.
Me pareció escuchar un llamado,
ruidos, quizá alguien que se
fue.
Si es así, hace bien, acá nadie
es bueno,
todos se van y no tengo con
quien hablar.
Pero suena el teléfono y temo
que sean los de la compañía para
avisarme
que cortarán la línea por falta
de pago.
Es cierto que tampoco estoy al
día con las expensas
y me miran raro en las reuniones
de consorcio
que no puedo eludir por algún
motivo,
y cuando me alejo por el pasillo
hablan con tanta pasión mal de
mí
que casi me pone contento su
entusiasmo.
Con el tiempo me fueron sacando los muebles
como forma de pago, luego la
ropa,
los electrodomésticos, y así
llegué a sentir que de algún
modo
yo también me mudaba, muy a
pesar mío,
que mi casa era otra: una cada
vez
más espaciosa, más fría, es
cierto,
pero debo decir que con más luz.
Tom Maver
1
Há uma mãe
que grita com o filho,
um bater de porta, um gemido, dois silêncios.
um bater de porta, um gemido, dois silêncios.
Os passos de
um velho no corredor
marcam o tempo, mais que os ruídos do elevador.
Um telefone toca inconsolável
num compartimento onde ninguém quer atender.
marcam o tempo, mais que os ruídos do elevador.
Um telefone toca inconsolável
num compartimento onde ninguém quer atender.
Alguém atira
o lixo como se de algo se salvasse.
2
Pouco vai
restando de mim,
em cada
mudança
deixo algo para trás, às vezes por esquecido,
outras com algo de solene.
deixo algo para trás, às vezes por esquecido,
outras com algo de solene.
E instalo-me
apenas
como pó em andar não mobilado,
pronto para quando for tempo
de deixar a nova casa.
como pó em andar não mobilado,
pronto para quando for tempo
de deixar a nova casa.
Mas vezes há
em que tardo a ir,
acumulo-me,
como a roupa no gavetão,
começo a
viver quase sem dar conta,
tapo as
humidades, pinto, ponho uma cama.
E quando
chega o sinal da partida,
limpo a
sério, arrumo, varro e se for preciso
troco as
coisas de lugar
a ver se
este acaso se parece, se pode ser
aquele lugar
que primeiro não quis deixar.
3
Onde estou?
Faz tanto
frio e estou inquieto,
pareceu-me ouvir chamar,
ruídos, talvez alguém que se foi.
pareceu-me ouvir chamar,
ruídos, talvez alguém que se foi.
Se for, está
bem, aqui ninguém presta,
todos vão embora e eu não tenho com quem falar.
todos vão embora e eu não tenho com quem falar.
Mas toca o
telefone e eu temo
que seja da companhia a avisar-me
de corte por falta de pagamento.
que seja da companhia a avisar-me
de corte por falta de pagamento.
É certo que
também não estou em dia com as quotas
e na reunião
do condomínio olham para mim de lado,
falando tão
mal de mim quando me afasto pelo corredor,
que a raiva
deles quase me deixa contente.
Com o tempo
fui ficando sem os móveis,
penhorados, depois a roupa,
penhorados, depois a roupa,
os
electrodomésticos, e assim
cheguei a
sentir que também eu
de certo modo me mudava, muito a meu pesar,
que a minha casa era outra, uma casa
cada vez mais espaçosa, mais fria, é verdade,
mas devo dizer com bem mais luz.
de certo modo me mudava, muito a meu pesar,
que a minha casa era outra, uma casa
cada vez mais espaçosa, mais fria, é verdade,
mas devo dizer com bem mais luz.
(Trad. A.M.)