24.12.16

João Guimarães Rosa (Ah, eu)





Aí dele me lembrei, na hora: e esse Hermógenes eu odiasse!
Só o denunciar dum rancor – mas como lei minha entranhada, costume quieto definitivo, dos cavos do continuado que tem na gente.
Era feito um nojo, por ser.
Nem, no meu juízo, para essa aversão não carecia de compor explicação e causa, mas era assim, eu era assim.
Que ódio é aquele que não carece de nenhuma razão?
Do que acho, para responder ao senhor: a ofensa passada se perdoa; mas, como é que a gente pode remitir inimizade ou agravo que ainda é já por vir e nem se sabe?
Isso eu pressentia.
Juro de ser.
Ah, eu.


JOÃO GUIMARÃES ROSA
Grande Sertão: Veredas
(1956)

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