LETTERA AMOROSA (*)
Nos paroles sont lentes à nous parvenir,
comme si elles contenaient, séparées,
une sève suffisante pour rester closes tout un hiver ;
ou mieux,
comme si, à chaque extrémité de la silencieuse distance,
se mettant en joue,
il leur était interdit de s’élancer et de se joindre.
Notre voix court de l’un à l’autre,
mais chaque avenue, chaque treille, chaque fourré,
la tire à lui, la retient, l’interroge.
Tout est prétexte à la ralentir.
Souvent je ne
parle que pour Toi,
afin que la terre m’oublie.
afin que la terre m’oublie.
Après le vent
c’était toujours plus beau,
bien que la douleur de la nature continuât.
bien que la douleur de la nature continuât.
René Char
[Poemário]
Vêm-nos lentamente as palavras,
como se contivessem, separadas,
uma seiva bastante para se fecharem o Inverno todo;
ou melhor,
como se em cada ponta da silenciosa distância,
na mira das armas,
lhes fosse vedado erguer-se e juntar-se.
Nossa voz corre de uma a outra,
mas cada avenida, cada ramada ou matagal,
a atrai, detém, interroga,
e tudo serve para a demorar.
como se contivessem, separadas,
uma seiva bastante para se fecharem o Inverno todo;
ou melhor,
como se em cada ponta da silenciosa distância,
na mira das armas,
lhes fosse vedado erguer-se e juntar-se.
Nossa voz corre de uma a outra,
mas cada avenida, cada ramada ou matagal,
a atrai, detém, interroga,
e tudo serve para a demorar.
Muita vez eu não falo senão para ti,
a ver se a terra me esquece.
a ver se a terra me esquece.
E melhora sempre o tempo depois do vento,
embora persista a dor da natureza.
embora persista a dor da natureza.
(Trad. A.M.)
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(*) Há várias versões: ... nonobstant...