18.4.16
Manuel Vilas (O último Elvis)
EL ÚLTIMO ELVIS
Respeta siempre la destrucción de las mujeres
y de los hombres que amaron o intentaron, al menos, amar
la vida y esta les quemó o les rompió los huesos de la cara,
las entrañas y las venas y el hígado y el buen corazón,
respeta todos los sagrados y los más humildes hundimientos
de los seres humanos.
Respeta a quienes se suicidaron.
Respeta a quienes se arrojaron a los océanos.
No hables mal de ellos, te lo ruego, te lo pido de rodillas.
Ama a toda esa gente, esa muchedumbre, ese río amarillo
de la Historia de todos cuantos perdieron tan injustamente,
o tan justamente,
da igual.
Gente que aceleró en una curva.
Gente que escondía botellas en los rincones de su casa.
Gente que lloraba en los parques de las afueras de las ciudades.
Gente que se envenenaba con pastillas, con alcohol,
con insomnios aterradores, con veinte horas de cama todos los días.
Lo intentaron, pero no lo consiguieron.
Gente a quien le sobraba tres cuartas partes de su pequeño frigorífico.
Gente que no tenía con quién hablar semanas enteras.
Gente que no comía por no comer sola.
Son hermosos igualmente, te lo juro.
Resplandecerán un día.
Nombremos todo aquello
que nos convirtió en seres humanos.
Para que no haya miedo, ni envidia, ni maldad.
Amo, celebro, y exalto todos los hundimientos
de todos los seres humanos que pisaron este mundo.
Porque el fracaso no existió jamás,
porque no es justo el fracaso y nadie merece fracasar,
absolutamente nadie.
Manuel Vilas
[La galla ciencia]
Respeita sempre a destruição das mulheres
e dos homens que amaram ou ao menos tentaram amar
a vida e esta queimou-os ou quebrou-lhes os ossos da cara,
as entranhas e as veias, o fígado e o bom coração,
respeita os consagrados e os mais humildes afundamentos dos seres humanos.
Respeita os que se suicidaram.
Respeita os que se atiraram aos oceanos.
Não fales mal deles, peço-te, imploro de joelhos.
Ama-me essas pessoas, essa multidão, esse rio amarelo
da História, de todos quantos perderam tão injustamente,
ou tão justamente,
dá no mesmo.
Pessoas que aceleraram numa curva.
Pessoas que escondiam garrafas nos cantos da casa.
Pessoas que choravam nos parques dos subúrbios das cidades.
Pessoas que se envenenavam com pastilhas, com álcool,
com insónias terríveis, com vinte horas de cama por dia.
Tentaram, mas não conseguiram.
Pessoas a quem sobravam três quartos do frigorífico, dos pequenos.
Pessoas sem ter com quem falar semanas inteiras.
Pessoas que não comiam, para não comerem sozinhas.
São belos na mesma, juro-te.
Um dia hão-de brilhar.
Nomeemos tudo quanto os converteu em seres humanos.
Para que não haja medo, nem inveja, nem maldade.
Amo, celebro e exalto todos os afundamentos
de todos os seres humanos que pisaram este mundo.
Porque o fracasso não existiu jamais,
porque não é justo o fracasso nem ninguém merece fracassar,
absolutamente ninguém.
(Trad. A.M.)
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