Durante anos o fressureiro do meu avô causou o terror no Refúgio e arredores com as suas facas reluzentes de matar porcinos.
Quando tinha bebido em demasia, pegava nas suas principais facas e ia aguçá-las entre aspas pelas paredes.
Era um espectáculo único, salutar para ele, mas medonho para o resto da população.
Gritava ele a quem o quisesse ouvir: "Seus sacanas do Refúgio! O primeiro a sair de casa esfolo-o como um porco! Zé Luís Fernandes só há um"!
Metiam-se em casa os refugienses, com o medo dessas facas que levantavam faíscas voadoras nas paredes de granito.
Não queriam ser transformados em morcelas ou chouriças os refugienses, que pela primeira vez estavam certos na designação toponímica.
- MANUEL DA SILVA RAMOS,
Pai, levanta-te, vem fazer-me um fato de canela!, 2013 (Lume nas paredes).
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