Nesse tempo de fome, de medo e de subserviência, as pessoas que não tinham dinheiro, depois de rompidas as calças, metiam quadras no cu.
Chegavam-se com modos lentos perto do meu pai e, depois de terem escolhido um remendo, faziam-lhe confiança.
Passados oito dias já as podiam vestir.
Havia por vezes pessoas que sobrepunham remendos e eram calças que podiam durar dez anos.
Nessa altura era fácil conservar as mesmas medidas durante anos, pois as pessoas não tinham meios para se alargarem na comida, muitas chupavam um caroço de azeitona desde os cueiros até à morte, era uma fatalidade como ser-se pegador de fios numa fábrica de lanifícios da Covilhã de pai para filho.
- MANUEL DA SILVA RAMOS,
Pai, levanta-te, vem fazer-me um fato de canela!, 2013 (Tirar os alinhavos).
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