19.1.14

Andrés Trapiello (Testamento)





TESTAMENTO



He muerto ya, paisaje que yo he amado
tantas veces aquí, rincón del alma.
Una vez más vengo por verte. A un lado,
encinares y olivos, y la calma

de ver, al otro, olivos y encinares.
Algunos caserones con jardines
llenos de ortigas ya, viejos lagares
con aspecto de viejos polvorines.

Un camino con olmos en hilera,
una majada, una almazara en ruinas,
musical, perezosa, la palmera,
y un Gredos azulado entre neblinas.

Nada de cuanto miro está en mis ojos
ni el olor del jazmín lo lleva el viento.
He muerto ya. Contempla mis despojos:
te dejo este paisaje en testamento.

ANDRÉS TRAPIELLO
Acaso una verdad
(1993)



Morri já, paisagem que amei
tantas vezes aqui, recanto da alma.
Uma vez mais venho ver-te. De um lado,
azinheiras e oliveiras, e a calma

de ver, do outro, oliveiras e azinheiras.
Alguns casarões com jardins
cheios de ortigas já, velhos lagares
com ar de paióis antigos.

Um caminho ladeado de ulmeiros,
um palheiro, uma azenha em ruína,
musical, preguiçosa, a palmeira,
e a serra de Gredos azulada na neblina.

Nada do que vejo está nos meus olhos
nem o vento leva o cheiro do jasmim.
Estou morto, olha os meus despojos:
esta paisagem, deixo-ta em testamento.

(Trad. A.M.)




>>  Andrés Trapiello (sítio) / Hemeroflexia (blogue) / A media voz (38p) / Abel Martín (31p) / Lecturalia (biblio) / Wikipedia

.