12.8.13
Mark Strand (A mão suja)
A MÃO SUJA
Tenho a mão suja,
devo cortá-la.
Não faz sentido lavá-la,
a água está suja
e o sabão ordinário,
não faz espuma.
A mão está suja
e já assim está há que anos.
Eu escondia-a dentro
do bolso das calças,
ninguém desconfiava.
Mas as pessoas vinham ter comigo,
querendo um aperto de mão.
Eu negava-me
e a mão escondida,
qual lesma escura,
deixava-me marca na coxa.
Então cheguei à conclusão
de que era o mesmo,
usá-la ou não usá-la,
o nojo era igual.
Ah! quantas noites
lavei essa mão
nos fundos da casa,
esfreguei-a, poli-a,
sonhando que se fizesse
diamante ou cristal,
ou até, quem sabe,
uma mão branca vulgar,
a mão limpa dum homem
que pudessem apertar,
beijar, ou segurar
num momento desses
em que duas pessoas se confessam
sem dizerem uma palavra...
Só para sentir
a mão imprestável,
letárgica, de caranguejo,
abrir os dedos sujos.
Sujidade ruim,
não é lama ou fuligem,
nem a porcaria empastada
duma crosta antiga,
nem o suor da camisa dum operário.
Antes uma porcaria triste,
feita de doença e humana angústia.
Não negra, que o negro é puro,
antes estúpida,
uma porcaria estúpida e cinzenta.
É impossível viver
com esta mão grosseira
que repousa sobre a mesa.
Corta-a. Já.
Corta-a em bocados
e atira-a ao mar.
Com tempo, com esperança
e suas artimanhas,
outra mão há-de aparecer,
pura, transparente como vidro,
e há-de amarrar-se ao meu braço.
Mark Strand
(Trad. A.M.)
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