9.5.13

Camilo Castelo Branco (Moléstias da velhice)






Entre as diversas moléstias significativas da minha velhice, o amor aos livros antigos – a mais dispendiosa – leva-me o dinheiro que me sobra da botica, onde os outros achaques me obrigam a fazer grandes orgias de pílulas e tisanas.

E quando cuido que me curo com as drogas e me ilustro com os arcaísmos, arruino o estômago e enferrujo o cérebro numa caturrice académica.

Constou-me aqui há dias que a Sr.ª Joaquina de Vilalva tinha um gigo de livros velhos entre duas pipas na adega, e que as pipas, em vez de malhais de pau, assentavam sobre missais.

O meu informador denomina missais todos os livros grandes; aos pequenos chama cartilhas.

Mandei perguntar à Sr.ª Joaquina se dava licença que eu visse os livros.

Não só mos deixou ver, mas até mos deu todos – que escolhesse, que levasse.



- CAMILO CASTELO BRANCO, A Brasileira de Prazins (Introdução).

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