SOB ESCOMBROS
Um tempo houve em que,
de tão próximo, quase podias ouvir
o silêncio do mundo pulsando
onde também tu eras mundo, coisa pulsante.
Extinguiu-se esse canto
não na morte
mas na vida excluída
da clarividência da infância
e de tudo o que pulsa,
fins e começos,
e corrompida pela estridência
e pela heterogeneidade.
Agora respondes por nomes supostos,
habitante de países hábeis e reais,
e precisas de ajuda para as coisas mais simples,
o pensamento, o sofrimento, a solidão.
A música, só voltarás a escutá-la
numa noite lívida,
uma noite mais vulnerável do que todas
(o presente desvanecendo-se, o passado cada vez mais lento)
um pouco antes de adormeceres
sob escombros.
de tão próximo, quase podias ouvir
o silêncio do mundo pulsando
onde também tu eras mundo, coisa pulsante.
Extinguiu-se esse canto
não na morte
mas na vida excluída
da clarividência da infância
e de tudo o que pulsa,
fins e começos,
e corrompida pela estridência
e pela heterogeneidade.
Agora respondes por nomes supostos,
habitante de países hábeis e reais,
e precisas de ajuda para as coisas mais simples,
o pensamento, o sofrimento, a solidão.
A música, só voltarás a escutá-la
numa noite lívida,
uma noite mais vulnerável do que todas
(o presente desvanecendo-se, o passado cada vez mais lento)
um pouco antes de adormeceres
sob escombros.
Manuel António Pina
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