13.3.12

Inês Dias (Adamastor)






ADAMASTOR



Regressámos à praia,
esgotada essa série de acidentes
em que o menor foi o amor,
ao contrário do que se previa.


Deixámos a maré subir
na memória, cancelar-nos
a areia sob os pés, levar
até os restos do navio encalhado
que ressuscitava todas as manhãs,
corpo de ossos já limpos.


Podia ter sido o meu.


Somos, afinal, dos últimos:
desfiamos gerações, contando onda após onda
após onda, até ao mergulho final.


E escrevemos como vivemos,
na espuma ou nos vidros embaciados
da cidade, com a teimosa certeza de que
nada ficará – nós não ficaremos.


Inês Dias



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