1.6.11

Bertolt Brecht (Hino a Deus)





HINO A DEUS



1
Fundo nos vales escuros morrem os famintos.
Mas tu mostras-lhes pão e deixa-los morrer.
Mas tu reinas eterno e invisível
Resplendente e cruel por sobre o plaino eterno.

2
Deixaste morrer os jovens e os gozadores
Mas os que queriam morrer, não os deixaste...
Muitos dos que agora já apodreceram
Criam em ti e morreram confiantes.

3
Deixaste os pobres serem pobres anos a fio
Porque a sua saudade era mais bela que o teu céu
Morreram infelizmente, antes de tu vires com a tua luz
Morreram eles felizes - e apodreceram logo.

4
Muitos dizem que não existes e que é melhor assim.
Mas como pode não existir o que assim pode enganar?
Quando tantos puderam viver de ti e de outro modo não puderam morrer -
Diz-me: perante isto que quer dizer - que tu não existes?


Bertolt Brecht

(Trad. Paulo Quintela)




[Luz & sombra]

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