3.5.11
Aníbal Núñez (Arte poética)
ARTE POÉTICA
Comenzar: las palabras deslícense. No hay nada
que decir. El sol dora utensilios y fauces.
No es culpable el escriba ni le exalta
gesta o devastación, ni la fortuna
derramó sobre él miel o ceguera.
Escribe al otro lado del exiguo gorjeo,
a mano. Busca en torno (frutas, lápices) tema
para seguir. Y sigue - sabe bien que no puede -
haciendo simulacro de afición y coherencia:
la escritura parece (paralela, enlazada)
algo. Un final perdido lo reclama
a medias. Fulge el broche de oro en su cerebro,
desplaza al sol extinto,
toma forma - el escriba cierra los ojos - de
(un moscardón contra el cristal) esquila.
Un rebaño invisible y su tañido escoge
entre símbolos varios el silencio; e invoca:
"Mi palabra no manche intervalos de ramas
y de plumas; no suene." Terminar el poema.
ANÍBAL NÚÑEZ
Cuarzo
Pre-Textos
Valencia
(1988)
[Cómo cantaba mayo]
Começar: as palavras que deslizem. Não há nada
para dizer. O sol doura utensílios e fauces.
Não tem culpa o escriba, nem o exalta
gesta ou devastação, nem a fortuna
derramou sobre ele mel ou cegueira.
Escreve do outro lado do exíguo gorjeio,
à mão. Busca em redor (frutas, lápis) tema
para continuar. E continua – bem sabe que não pode –
simulando empenho e coerência:
a escrita parece (paralela, enlaçada)
alguma coisa. Um final perdido reclama-o
a meias. Fulge-lhe o broche de ouro no cérebro,
desloca o extinto sol,
tomando a forma – o escriba fecha os olhos – de
(um moscardo contra o vidro) sineta.
Um rebanho invisível e seu tanger escolhe
entre símbolos vários o silêncio; e invoca:
“Minha palavra não manche intervalos de ramos
e plumas; não soe”. Terminar o poema.
(Trad. A.M.)
>> Poesias (14p) / Wikipedia / Convivia Literaria (análise crítica < Jesús Muñoz) / A media voz (37p)
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