19.5.11

Ana Blandiana (Sem saber)






SEM SABER




Evidentemente não sou
como esses fiandeiros de palavras
que fazem as roupas e as corridas de agulha,
as glórias, os orgulhos,
apesar de me mover no meio deles
e eles me olharem as palavras como se fossem malhas
– “Que bem posta que vais!”, dizem-me,
– “Que bem que te fica o poema!”
sem saber
que os poemas não são o meu vestido,
mas o esqueleto
extraído com dor
e posto por cima da carne como uma carapaça,
tal como as tartarugas,
que assim sobrevivem
séculos
longos e infelizes.






(Trad. A.M.)


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