25.9.17

Mário de Carvalho (Um saco de plástico)





Arrebatado, um saco de plástico saltou nos céus, a boa altura, muito acima das copas dos pinhais. 

Oscilou, valsou, pairou, lento, como se fosse para ir ficando, suspenso de nada. 

E espreguiçava-se, e encolhia-se e expandia-se, revirava-se, gozava a vista e o Sol. 

Agora drapejava – era bandeira, agora planava – era milhano, agora enfunava-se – era balão. 


Estava nisto e estava a convencer-se de que as letras verdes e o símbolo amarelo – Pingo Doce – pertenciam por direito próprio àquelas zonas alcandoradas, de aragens mais quentes. 

Veio uma guinada, deitou-lhe a garra, amarfanhou-o e rebaixou-o uns metros. 

Outra o resgatava, amparava e desdobrava, impante e triunfal, com sonoridades secas. 

À traição, atirou com ele para longe, uma, outra e outra vez, apesar de resistir com os bufos sacudidos de um polvo. 

Vai abaixo! Vai acima!



MÁRIO DE CARVALHO
A Sala Magenta-XII
(2008)

.