5.5.23

Fernando Pessoa (Ó sino da minha aldeia)




Ó sino da minha aldeia, 
Dolente na tarde calma, 
Cada tua badalada
Soa dentro da minh’alma. 

E é tão lento o teu soar, 
Tão como triste da vida, 
Que já a primeira pancada 
Tem um som de repetida. 

Por mais que me tanjas perto 
Quando passo sempre errante,
És para mim como um sonho 
— Soas-me sempre distante... 

A cada pancada tua, 
Vibrante no céu aberto, 
Sinto mais longe o passado, 
Sinto a saudade mais perto.
 

Fernando Pessoa

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