11.8.18

Mário de Carvalho (Ó Joel!)




(Ó Joel!)



Mas Joel não estava para conversas.

Fulminara-o um apelo no caminho de Damasco e não tinha que dar satisfações a ninguém.

Na semi-obscuridade não explodiram labaredas pirotécnicas nem ressoaram vozes divinais, mas impuseram-se, súbitas, vibrantes, imperativas, reminiscências de canções e trechos de letras mal recordadas.

E foi como (este ‘como’ não introduz metáforas, por ora, que as reservo para mais tarde, talvez dedicando-lhes meio capítulo ou um inteiro, para conferir um toque de literaridade petite-bourgeoise, muito vendável, a este texto...) a sala se enchesse de pequenas multidões juvenis, vestidas de bombazina e cabedal, que em coro, balanceando os corpos, cantassem arrebatados louvores à Revolução de Outubro, a Lenine e à Maria da Fonte.

MÁRIO DE CARVALHO
Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto
(1995)


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