8.8.18

Eugénio de Andrade (Anunciação da alegria)






ANUNCIAÇÃO DA ALEGRIA



Devia ser verão, devia ser jovem:
ao encontro do dia caminhava
como quem entra na água.

Um corpo nu brilhava nas areias
- corpo ou pedra?, pedra ou flor?

Verde era a luz, e a espuma
do vento rolava pelas dunas.

De repente vi o mar subir a prumo,
desabar inteiro nos meus ombros.

Aprendia a falar de boca em boca,
mordendo as palavras de alegria.

Sem muros era a terra, e tudo ardia.


Eugénio de Andrade


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