na praia lá
do guincho as velas
de windsurf
saltam sobre as ondas
e o meu
olhar, equestre,
pula nos
peitos das banhistas, enquanto
um cachorro
tenta agarrar a cauda.
nos feriados
tudo é insuportável
menos o sol
e o mar
apesar das
famílias.
e sustendo
as gaivotas na mais alta
imaginação,
porque hoje não vi nenhuma,
o vento traz
de tudo
e antónio
nobre e lorca às pandas roupas
que modelam
os corpos em míticas figuras
com o seu
drapejado esvoaçante,
entre dunas
e lixo e vendedores de gelados.
restaria o
campo, mas
«no campo
não há bicas nem paperbacks»
diz uma
amiga minha e tem razão.
que seria de
nós, bucólicos, sem esses indicadores da alma? dou
lume a uma
italiana e enquanto
ela agradece
ocorre-me que despi-la já não é
cosa
mentale; faz-me lembrar o algarve, mas no verão
o algarve é
a continuação
da política
por outros meios. antes
a nortada,
os surfistas,
na crista da
onda, a areia que entra no poema,
e o regresso
mais cedo, quando já não se
aguenta.
Vasco Graça Moura
[Camões]