12.4.18

Agustina Bessa-Luís (Fanny Owen)





(O rio Douro)


O rio Douro não teve cantores.

Teve-os o Mondego e o Tejo também.

Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da guitarra havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado.

Havia o tiro certeiro dos caçadores de perdiz, lá pelas bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira.

E o clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve que cobria os barrancos de Sabroso.

O rio Douro ficou banido da lírica portuguesa com a sua catadura feroz pouco própria para animar os gorjeios dos bernardins, que são sempre lamurientos e que à beira de água lavam os pés e os pecados.

E no entanto, trata-se de um rio majestoso como não há outro. (Início)



AGUSTINA BESSA-LUÍS
Fanny Owen
(1979)

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