(O rio Douro)
O rio Douro não teve cantores.
Teve-os o Mondego e o Tejo também.
Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da
guitarra havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado.
Havia o tiro certeiro dos caçadores de perdiz, lá pelas
bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira.
E o clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve
que cobria os barrancos de Sabroso.
O rio Douro ficou banido da lírica portuguesa com a sua catadura
feroz pouco própria para animar os gorjeios dos bernardins, que são sempre
lamurientos e que à beira de água lavam os pés e os pecados.
E no entanto, trata-se de um rio majestoso como não há
outro. (Início)
AGUSTINA BESSA-LUÍS
Fanny Owen
(1979)
Fanny Owen
(1979)
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