3.9.15

Mário de Carvalho (Aquilino-1)





Quando falamos na irradiação semântica das palavras, na sua polissemia, vem logo à ideia o grande Aquilino Ribeiro e a sua magnífica paleta de gradações, num turbilhão alegre de reminiscências e sonoridades que não têm paralelo na literatura portuguesa.

Não se trata, como pode acontecer noutros autores do séc. XX, de um mostruário de palavras - destinado a demonstrar e a cansar pela quantidade (há exemplos) - mas de um talentoso espertar de uma tradição que vem, sem dúvida, da velha prosa fradesca, designadamente de um Frei Luís de Sousa, de António Vieira, decerto, mas sobretudo de um Camilo, de que Aquilino é um talentoso continuador.

Não apenas pela mestria (podíamos dizer: prestidigitação) sobre os recursos da língua, mas sobremaneira pela graça que lhe repassa os textos, pela cultura solidíssima que os informa e pela exuberante imaginação verbal. (pp. 230/1)


MÁRIO DE CARVALHO
Quem disser o contrário é porque tem razão
(2014)

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