8.6.15

José Cardoso Pires (Opus Night-2)





Ao pôr-do-sol era possível vê-lo, de pé e obstinadamente só, a olhar um qualquer horizonte para lá do balcão.

Dizia-se que estava a dobrar o meridiano, era a expressão - e aguardava-se.

Uma vez passada essa linha que lhe dividida a memória,o homem começaria a regressar ao seu natural (que era o dos copos) e até a voz seria outra.

Porque, na meia-tinta do ocaso, Sebastião Manuel, lisboeta por fadário e transmontano por convicção, também mudava de voz se lhe desse para recordar os nordestes da infância ou a Casa da lavoura paterna.

Isso era público, sabia-se.

Assim como se sabia, embora ele nunca o dissesse, que tinha um irmão juiz, beato, salazarista, solteiro, vegetariano e, finalmente, membro da Opus Dei.

Daí chamarem-lhe a ele Opus Night, Sebastião Manuel, o Opus Night.

Ou Copus Night , também podia ser;
ou Octopus Night;
ou Antropus Night.(p.88)


JOSÉ CARDOSO PIRES
Alexandra Alpha
(1987)

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