29.1.15

Valter Hugo Mãe (Fim)





FIM



tentei matar-me no dia onze de julho de
dois mil e seis. o sol era intenso mas
os meus olhos perderam de tal modo a luz,
que a própria faca brilhando se tornou
apenas um animal de dentes afiados que
me feriu os dedos mas não se deixou
apanhar. a morte fugiu-me assim. foi o
mais estranho que me aconteceu e pode
só isso ser o mais peculiar que tenho
para deixar dito, deitando por terra qualquer
obra, qualquer outro poema, que soará,
seguramente, uma redundância depois
que a vida se prolonga para lá do fracasso


VALTER HUGO MÃE
Contabilidade
Poesia 1996-2010
Alfaguara (2010)

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