21.1.15
Rafael Cadenas (As pazes)
LAS PACES
Lleguemos a un acuerdo, poema.
Ya no te forzaré a decir lo que no quieres
ni tú te resistirás tanto a lo que deseo.
Hemos forcejeado mucho.
¿Para qué este empeño en hacerte a mi imagen
cuando sabes cosas que no sospecho?
Líbrate ya de mí.
Huye sin mirar atrás.
Sálvate antes de que sea tarde.
Pues siempre me rebasas,
sabes decir lo que te impulsa
y yo no,
porque eres más que tú mismo
y yo sólo soy el que trata de reconocerse en ti.
Tengo la extensión de mi deseo
y tú no tienes ninguno,
sólo avanzas hacia donde te diriges
sin mirar la mano que mueves
y te cree suyo cuando te siente brotar de ella
como una sustancia
que se erige.
Imponle tu curso al que escribe, él
sólo sabe ocultarse,
cubrir la novedad,
empobrecerse.
Lo que muestra es una reiteración
cansada.
Poema,
apártate de mí.
RAFAEL CADENAS
Poemas selectos
(2004)
Vamos combinar uma coisa, poema.
Eu não te obrigo a dizer o que tu não queres
e tu não te oporás tanto aos meus desejos.
Temos feito muita força.
Para quê o meu empenho em te fazer à minha imagem,
quando sabes coisas que eu nem suspeito?
Livra-te já de mim,
foge sem olhar para trás,
salva-te antes que seja tarde.
Porque sempre me ultrapassas,
sabes dizer o que te move
e eu não,
porque tu és mais do que tu mesmo
e eu sou só o que tenta reconhecer-se em ti.
Eu tenho o tamanho do meu desejo
e tu não tens nenhum,
avanças no teu caminho
sem olhar a mão que moves,
que te crê seu ao ver-te brotar dela
como substância em ascensão.
Impõe-te ao poeta,
que sabe só ocultar-se,
cobrir a novidade,
empobrecer-se.
Aquilo que mostra é uma reiteração
fatigada.
Poema,
afasta-te de mim.
(Trad. A.M.)
>> Rafael Cadenas (sítio) / A media voz (45p) / Poesi.as (18p) / Letras.s5 (15p) / Wikipedia
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