5.7.13
Jorge de Sena (Como queiras, Amor)
Como queiras, Amor, como tu queiras,
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo,
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.
Nada há que eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.
As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de mal contente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.
Como queiras, Amor, como tu queiras.
de frágil que és não poderás salvar-me,
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárnio, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.
Será mais duro que morrer, talvez
Entregue a ti, porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.
Como queiras, Amor, como tu queiras.
Jorge de Sena
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