1.12.12

Piedad Bonnett (De tarde em tarde)





DE TARDE EN TARDE



A mi madre le gusta ir a ese café de sobrias lámparas,
pedir galletas de vainilla,
tomar dos tazas de té negro con parsimonia
como un acto ceremonial.
Hoy la he traído, pues, cediendo al gesto filial mi tarde laboriosa.
Tras los enormes ventanales vemos correr la vida afuera
mientras hablamos de otros días
y la tibieza del lugar sugiere que la felicidad no es más que esto.
De repente
como recuperando las palabras de un sueño
ella dice: “Qué lástima que todo se termina”.
Lo dice con sonrisa liviana, pues sabe
que ser trascendental no conviene a la tarde.
(Mi madre cumplió setenta y cuatro años
y alguna vez fue bella).
Al fondo de las tazas el té pinta sus signos.
Yo no sé que decir.
Miramos la avenida, las caras planas de los transeúntes,
los árboles que callan. Anochece.


Piedad Bonnett





Minha mãe adora ir àquele café de luzes sóbrias,
pedir biscoitos de baunilha,
tomar duas chávenas de chá preto com modos
próprios de uma cerimónia.
Hoje trouxe-a, pois, cedendo ao gesto filial a minha tarde de labor.
Pelas vitrinas enormes vemos correr a vida lá fora
enquanto falamos de outros dias
e o ambiente morno sugere que a felicidade não é mais do que isto.
De repente
como se tomasse as palavras dum sonho
diz ela: “Que pena que tudo se acabe”.
Di-lo com um sorriso ligeiro, sabendo
que o transcendente não diz bem com a tarde.
(Minha mãe foi bela em tempos
e fez já setenta e quatro anos).
O chá no fundo das chávenas desenha os seus sinais.
E eu não sei que dizer.
Observamos a avenida, as caras chãs de quem passa,
as árvores silenciosas. Anoitece.


(Trad. A.M.)

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