21.12.12
João Araújo Correia (As escolas de primeiras letras)
As escolas de primeiras letras...
Cerro as pálpebras e vejo-me, aos quatro ou cinco anos, na aula da mestra régia de Canelas.
A minha irmã mais velha levava-me à lição para eu não brincar com a canalha da rua.
Ia todo contente, porque não apanhava bolas, não tinha ABC nem cartilha – passava as horas entretido com um regrão a desenhar macacos numa loisa.
Dava-me muito mimo a Senhora Mestra e as meninas grandes. (...)
Não se abria a janela da escola nas manhãs cálidas.
O sol alegrava o traço da porta.
Avançava, marcando os minutos no sobrado escuro.
Os raios que desciam da telha vã projectavam-se na cabeça guedelhuda das raparigas da aldeia ou sujavam o chão com nódoas de luz, moedas de oiro reluzente que eu chocalhava na palma da minha mão.
- JOÃO DE ARAÚJO CORREIA, Sem Método, LXVI.
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