20.12.10

José Angel Barrueco (A família dispersa)






LA FAMILIA DISPERSA




la familia acabó dispersa, disgregada
mi madre vive en un piso de alquiler con dos gatos
mi hermano se mudó a una isla, para alejarse del pasado
mi hermana comparte techo con su novio en nuestra tierra
yo vivo con mi chica en una ciudad distinta


mi padre tuvo que vender la empresa familiar
(y con el dinero solventaron las deudas del negocio)
hoy comparte casa con mi abuela
sospecho que no se soportan
a él le han despojado en una sola jugada
del trabajo, del paro y de la seguridad social
sobrevive como puede, supongo
es como si el destino hubiera querido
ajustarle las cuentas


pero nosotros,
mi madre
mis hermanos y yo
no queríamos eso para él
nos bastaba con olvidarlo,
con alejarlo de nuestras vidas
no queríamos que la sociedad
y sus normas lo colocaran en
ese estado en el que un hombre es un paria:
sin oficio, sin sueldo, sin un lugar donde caerse muerto


pero a veces los cuentos funcionan así
y para nosotros cuatro tuvo un final feliz
seguimos siendo una piña, prieta e irrompible
él no pudo derrotarnos y quiero que sepas
que, si él no lo consiguió,
nadie lo hará.




JOSÉ ANGEL BARRUECO (*)
No hay camino al paraíso
Ya lo dijo Casimiro Parker
(2009)


[.ensilencio.]





a família acabou dispersa, desagregada
minha mãe vive com dois gatos num andar arrendado
meu irmão mudou-se para uma ilha, para se afastar do passado
minha irmã partilha o tecto com o noivo na nossa terra
eu vivo com a minha rapariga noutra cidade


meu pai teve de vender a empresa familiar
(e com o dinheiro pagaram as dívidas do negócio)
hoje divide a casa com a minha avó
desconfio que não se aturam
a ele tiraram-lhe dum só golpe
o trabalho, o desemprego e a segurança social
sobrevive como pode, suponho eu
é assim como se o destino quisesse
ajustar contas com ele


mas nós,
minha mãe
meus irmãos e eu
não queríamos isso para ele
bastávamo-nos com esquecê-lo
afastá-lo da nossa vida
não queríamos que a sociedade
e suas regras o pusessem
nesse estado que faz de um homem um pária,
sem ofício, sem salário, sem ter onde cair morto


mas às vezes as histórias são assim
e para nós quatro foi um final feliz
continuamos a ser como uma pinha,
cerrada e impartível
ele não foi capaz de nos derrotar
e posso dizer, se ele não conseguiu,
que ninguém conseguirá.


(Trad. A.M.)



(*) Coincidência fatal, para este poste pré-agendado:
      A JAB morreu ontem a mãe, Ana Franco (.ensilencio.).
      Não há desgraça maior.
      Abc forte, lembrando aqui: La fuente de la vida.
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