17.12.10
Jorge Teillier (Quando eu não era poeta)
CUANDO YO NO ERA POETA
Cuando yo no era poeta
por broma dije era poeta
aunque no había escrito un solo verso
pero admiraba el sombrero alón del poeta del pueblo.
Una mañana me encontré en la calle con mi vecina.
Me preguntó si yo era poeta.
Ella tenía catorce años.
La primera vez que hablé con ella
llevaba un ramo de ilusiones.
La segunda vez una anémona en el pelo.
La tercera vez un gladiolo entre los labios.
La cuarta vez no llevaba ninguna flor
y le pregunté el significado de eso a las flores de la plaza
que no supieron responderme
ni tampoco mi profesora de botánica.
Ella había traducido para mí poemas de Christian Morgenstern.
A mí no se me ocurrió darle nada a cambio.
La vida era para mí muy dura.
No quería desprenderme ni de una hoja de cuaderno.
Sus ojos disparaban balas de amor calibre 44.
Eso me daba insomnio.
Me encerré mucho tiempo en mi pieza.
Cuando salí la encontré en la plaza y no me saludó.
Yo volví a mi casa y escribí mi primer poema.
Jorge Teillier
[Noctambulario]
Quando eu não era poeta
disse por graça que era
embora não tivesse escrito um único verso
mas admirava o chapéu de aba
do poeta da terra.
Uma manhã encontrei-me na rua com a vizinha.
Perguntou-me se eu era poeta.
Tinha ela catorze anos.
A primeira vez que lhe falei
levava um ramo de ilusões.
Da segunda uma anémona no cabelo.
À terceira um gladíolo entre os lábios.
À quarta vez não levava qualquer flor
e eu perguntei o que isso queria dizer
às flores da praça
as quais não souberam dizer-mo
nem tão pouco a minha professora de botânica.
Ela tinha-me traduzido poemas de Christian Morgenstern.
Mas a mim não me ocorreu dar-lhe nada em troca.
A vida para mim era bastante dura,
não me queria desfazer nem duma folha de caderno.
Seus olhos disparavam balas de amor calibre 44.
E isso dava-me insónias.
Fechei-me muito tempo no quarto.
Quando saí encontrei-a na praça mas nem me saudou.
Eu voltei para casa e escrevi o meu primeiro poema.
(Trad. A.M.)
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