5.4.16

Alexandre Pinheiro Torres (Abertura)






Nesta invernia que não pára vamos deter-nos num alvorecer em particular.

O de terça-feira, 19- Dezembro-1961.

Os homens atribuem ou não números diversos a cada madrugada por muito semelhante que se pareça com qualquer das que a precederam?

A verdade é que cada manhã que se ergue, preguiçosa, da sua tarimba e nos saúda com rigores e exigências militares, exibe o rosto baço ou afogueado, conforme as estações, uma etiqueta com algarismos sempre novos.

É bem sabido que o tempo converte mais gente que a razão.

A manhã que rompe não sabe disso nem se importa.

Mas incomodam-se aqueles que sabem que cada toque de alvorada fere um timbre que nunca se repete.

Por que assomamos à janela todas as manhãs?

Por que espreitamos o céu?

Porque ele é, todos os dias, o risco que devemos enfrentar. (n. 1)



ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
Espingardas e Música Clássica
(1987)

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