6.11.22

Felipe Benítez Reyes (A desconhecida)




LA DESCONOCIDA

 

En aquel tren, camino de Lisboa,
en el asiento contiguo, sin hablarte
-luego me arrepentí.
En Málaga, en un antro con luces
del color del crepúsculo, y los dos muy fumados,
y tú no me miraste.
De nuevo en aquel bar de Malasaña,
vestida de blanco, diosa de no sé
qué vicio o qué virtud.
En Sevilla, fascinado por tus ojos celestes
y tu melena negra, apoyada en la barra
de aquel sitio siniestro,
mirando fijamente -estarías bebida- el fondo de tu copa.
En Granada tus ojos eran grises
y me pediste fuego, y ya no te vi más,
y te estuve buscando.
O a la entrada del cine, en no sé dónde,
rodeada de gente que reía.
Y otra vez en Madrid, muy de noche,
cada cual esperando que pasase algún taxi
sin dirigirte incluso
ni una frase cortés, un inocente comentario...
En Córdoba, camino del hotel, cuando me preguntaste
por no sé qué lugar en yo no sé qué idioma,
y vi que te alejabas, y maldije la vida.
Innumerables veces, también,
en la imaginación, donde caminas
a veces junto a mí, sin saber qué decirnos.
Y sí, de pronto en algún bar
o llamando a mi puerta, confundida de piso,
apareces fugaz y cada vez distinta,
camino de tus mundos, donde yo no podré
tener memoria.
 

Felipe Benítez Reyes

 

Naquele comboio, a caminho de Lisboa,
no lugar do lado, sem te falar
-depois arrependi-me.
Em Málaga, num antro com luzes
da cor do crepúsculo, ambos cheios de fumo,
e tu nem me olhaste.
De outra vez no bar de Malasaña,
tu vestida de branco, deus de não sei
que vício ou virtude.
Em Sevilha, fascinado com teus olhos celestes
e negros cabelos, apoiada ao balcão 
daquele sítio sinistro,
a olhar fixamente, já um pouco tocada, o fundo do copo.
Em Granada, teus olhos eram cinzentos
e pediste-me lume, e nunca mais te vi,
e bem te procurei.
Ou à porta do cinema, não sei onde,
rodeada de gente a rir muito.
E outra vez em Madrid, muito de noite,
cada um à espera de um táxi que passasse,
sem dirigir-te sequer 
uma palavra cortês, um inocente comentário…
Em Córdova, a caminho do hotel, quando me perguntaste
por não sei que lugar, em não sei que língua,
e vi que te afastavas, e disse mal da vida.
Vezes sem conta, também, 
na imaginação, onde caminhas
por vezes a meu lado, sem sabermos que dizer.
E se de repente num bar
ou tocando-me à porta, por engano no andar,
apareces fugaz e sempre diferente,
demandando o teu mundo, onde me não será
permitida qualquer lembrança.
 

(Trad. A.M.)

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