23.5.22

A.M.Pires Cabral (Douro, S.A.)




DOURO, S. A.

 

Três sócios. 

Deus entrou com o xisto, 
a meteorologia
e a Vitis vinifera.
O inglês (e similares),
com o paladar e o talento
colonizador.
O indígena, com os braços, com as mãos, 
com as unhas (para arrebunhar a terra
em momentos de maior lucidez), 
com as glândulas sudoríparas 
– e muitas vezes com o corpo todo. 

Investimento
equitativamente repartido,
como se vê.
(Os dividendos é que nem por isso.) 

Depois os poetas, como aqueles sujeitos
que entram nas festas sem convite,
ou talvez melhor: como ratos,
vêm às migalhas do banquete.

Deus acha bem as incursões dos ratos.  
O indígena não acha bem nem mal.
O inglês e similares acham que, 
roendo os ratos a parte meramente 
imaterial – por definição inconsumptível –
não merece a pena investir
em raticidas nem em ratoeiras,
nem sequer em gatos. 

Afinal de contas, a beleza 
do Douro é um recurso renovável.
Deixá-los comer, coitados. Também 
os ratos precisam de viver.
 

A.M.Pires Cabral

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