DOURO,
S. A.
Três sócios.
Deus
entrou com o xisto,
a
meteorologia
e a
Vitis vinifera.
O inglês
(e similares),
com o
paladar e o talento
colonizador.
O
indígena, com os braços, com as mãos,
com as
unhas (para arrebunhar a terra
em
momentos de maior lucidez),
com as
glândulas sudoríparas
– e
muitas vezes com o corpo todo.
Investimento
equitativamente
repartido,
como se
vê.
(Os
dividendos é que nem por isso.)
Depois
os poetas, como aqueles sujeitos
que
entram nas festas sem convite,
ou
talvez melhor: como ratos,
vêm às
migalhas do banquete.
Deus
acha bem as incursões dos ratos.
O
indígena não acha bem nem mal.
O inglês
e similares acham que,
roendo
os ratos a parte meramente
imaterial
– por definição inconsumptível –
não
merece a pena investir
em
raticidas nem em ratoeiras,
nem
sequer em gatos.
Afinal
de contas, a beleza
do Douro
é um recurso renovável.
Deixá-los
comer, coitados. Também
os ratos
precisam de viver.
A.M.Pires Cabral