Me llamo Ernesto.
Nadie me llama
Ernesto.
Nadie me llama.
Nadie no es una
persona.
Nadie es nada.
Cero.
Folio en
blanco.
Teléfono sin
agenda.
Amor sin wifi.
He amado a casi
todas las mujeres
que se han cruzado
conmigo.
Ellas no lo saben.
En su ignorancia
salvo el ridículo.
Soy de los que se
caen
y hacen como que
están buscando una moneda.
Prefiero que me
tachen de pobre
que de vértigo.
Prefiero que me
tachen.
Que nadie me
llame.
Nadie de ella.
Ojalá fueras
nadie.
Tú, que te crees
Alma,
que te llamo Alma,
que te gritan
rubia en los pasos de peatones,
que te silban a
Vivaldi en la boca del metro.
Ojala yo fuera la
boca de un metro.
Que tu boca
estuviera a un metro de mi boca.
Que entraras y
salieras cada mañana
sin reconocer que
mi lengua
te lame los lunes
más pesados de la nuca.
Ojalá fuera lunes.
Y no me llamara
Ernesto.
Y no amara a todas
las mujeres
que se cruzan por
mi vida.
Que hubiera una
moneda tras la caída.
Que saliera
cara.
Tu cara.
Que pensaran todos
que he tenido suerte
y no vértigo.
Y quedarme en el
suelo
hasta que nadie me
levante
y me llame por mi
nombre.
Una vez.
Pero nadie de
todo.
Del total y de
rubia.
Y de Vivaldi
Y de boca de
metro.
Y de Alma.
Sobre todo de
Alma.
Ernesto
Pérez Vallejo
Eu chamo-me Ernesto.
Ninguém me chama Ernesto.
Ninguém me chama.
Ninguém não é uma pessoa.
Ninguém é nada.
Zero.
Folha em branco.
Telefone sem agenda.
Amor sem wi-fi.
Amei quase as mulheres todas
que se cruzaram comigo.
Sem elas saberem,
no que me poupo ao ridículo.
Eu sou daqueles que caem
e fazem que estão à procura de uma moeda.
Prefiro que me acoimem de pobre
Prefiro que me acoimem de pobre
a que me acusem de vertigem.
Prefiro que me acoimem.
Que ninguém me chame.
Ninguém dela.
Quem dera tu fosses ninguém.
Tu, que te crês Alma,
que eu chamo Alma,
que os outros gritam loira nas passadeiras de
peões,
que te assobiam Vivaldi na boca do metro.
Fosse eu a boca de um metro.
Ou tua boca estivesse a um metro da minha boca.
Ou tu entrasses e saísses de manhã
sem reconhecer-me a língua
a lamber-te as segundas mais pesadas da nuca.
Oxalá fosse segunda.
E eu não me chamasse Ernesto.
E não amasse as mulheres todas
que se me atravessam na via.
Que houvesse mesmo uma moeda quando caio.
E fosse cara.
A tua cara.
E todos pensassem que eu tive sorte, sim,
não vertigem.
E ficasse pelo chão
até ninguém me levantar
e me chamar pelo nome.
Uma vez.
Mas ninguém de todo.
De todos e da loira.
E de Vivaldi.
E da boca do metro.
E de Alma.
De Alma, sobretudo.
(Trad. A.M.)