(O ruivo)
Quando estiou, partiram.
Anoitecera já de todo.
O ruivo tinha acendido a lanterna da charrete e o clarão
batia na lombeira da égua lustrosa de suor e chuva.
O perfil do cocheiro arrancava-o da sombra a luz amarelada:
o queixo espesso, o nariz correcto, a fronte não muito ampla mas firme.
De encontro à noite, parecia uma moeda de oiro.
O moço ia hirto, de olhos postos no caminho escalavrado que
a lanterna abria a custo, e a tensão (a atenção) dava-lhe um rigor enérgico aos
tendões do pescoço que o blusão de bombazina deixava a descoberto.
Ela fitava-o e não resistia à tentação de um paralelo com o
homem mole e silencioso que levava ao lado. (IV)
CARLOS DE OLIVEIRA
Uma Abelha na Chuva
(1953)
Uma Abelha na Chuva
(1953)
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