(Amanhecer)
O primeiro alvor da madrugada na janela do escritório, um
começo de luz apenas, ainda por fixar no contorno do mundo.
Como a mulher se tivesse recusado a deixá-lo entrar no
quarto, passara ali a noite, encolhido no meiple de couro, com a samarra pelas
pernas.
Não conseguira adormecer, mas alcançara do excesso das
palavras e do álcool um pouco de repouso.
No entanto doía-lhe a cabeça.
A boca seca, amarga.
Levantar-se e abrir a janela.
Uma golada de água, a pureza fria da madrugada.
A cinza da luz amontoava-se nas vidraças, mas não era
possível prever se o dia chegaria ou não.
Quando começava a clarear um pouco mais, a lufada de sombra
varria a cinza da janela.
Um desejo irreprimível de cheirar os campos molhados.
Beber água, passar os dedos na casca rugosa dum pinheiro,
encharcar-se de orvalho. (XV)
Uma Abelha na Chuva
(1953)
(1953)
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