POEMA DE
AMOR
Os segredos
de amor têm profundezas difíceis de alcançar,
tal como a
chuva que hoje cai e nos molha na calçada a face,
nós olhando
triste uma saudade imensa
num corpo de
mulher metamorfoseada.
Sou
demasiado são para me esquecer
do tempo
apaixonado que vivi nos teus braços
e bebo no
teu um coração meu
adormecido
no mar do meu cansaço
ou no rio
das minhas secas lágrimas.
Tardará
muito, se é que as horas contam,
ver-te, de
novo, perto de mim, longe,
mas eu
espero, sou paciente e, no meu canhenho, aponto,
um dia a
menos, o da tua chegada.
E assim me
fico, rente ao horizonte,
abrigado da
chuva numa cabine telefónica,
e ligo para
ti - que número? - ninguém responde
do oceano
que avança e retrai colinas,
o vulto de
um navio, tu na amurada
acenando um
lenço, ó minha pomba branca!...
Como se
tempestade houvesse e um naufrágio de chuva
- as
vidraças escorrem, as árvores liquefazem-se... -
escurecendo
os teus cabelos,
ou, se
preferes, a minha boca neles
carregada de
ilhas, de nocturnos perfumes
que ateiam
lumes, ó minha idolatrada,
na minh'
alma inquieta um outro bater d' asas
ou num
jardim um leito de flores!...
Ruy Cinatti
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