Trocavam-se saraivadas de ballas a distancia de tiro de
pistola com a pontaria certeira do ódio entre soldados disciplinados e
caçadores dos desfiladeiros do Gerez — pois, senhores, não morreu ninguém.
Exemplo : uma vez, padre Casimiro, com dous homens, sahe á
frente da tropa, e, ao alcance de um tiro de caça, exclama : — «Rapazes, aqui
está o padre Casimiro, commandante do povo de Vieira, a quem procurastes para
prender. Ou vos rendeis, ou nenhum de vós fica hoje vivo ! »
A soldadesca, que estava deitada, levanta-se, mas não se
rende. O padre aponta-lhe e desfecha uma pistola de cavallaria. A tropa
responde-lhe com uma descarga cerrada. O padre carrega de novo e atira. A tropa
carrega e desfecha outra descarga. Pois das 340 balas não houve uma que
acertasse no padre nem raspasse pelos dois guerrilhas invulneráveis.
Diria Boileau: ‘Le vrai peut quelquefois n’être
pas vraisemblable’.
(p. 65)
(p. 65)
CAMILO CASTELO BRANCO
Maria da Fonte
Porto (1901)
Maria da Fonte
Porto (1901)
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