POÉTICA
Que cada palabra lleve lo que
dice.
Que sea como el temblor que la
sostiene.
Que se mantenga como un latido.
No he de proferir adornada
falsedad ni poner tinta dudosa ni añadir
brillos a lo que es.
Esto me obliga a oírme. Pero
estamos aquí para decir verdad.
Seamos reales.
Quiero exactitudes aterradoras.
Tiemblo cuando creo que me
falsifico. Debo llevar en peso mis
palabras. Me poseen tanto como
yo a ellas.
Si no veo bien, dime tú, tú que
me conoces, mi mentira, señálame
la impostura, restriégame la
estafa. Te lo agradeceré, en serio.
Enloquezco por corresponderme.
Sé mi ojo, espérame en la noche
y divísame, escrútame, sacúdeme.
Rafael Cadenas
Que cada
palavra tenha o que diz,
que seja
como o tremor que a sustém,
que se
mantenha como latejo.
Não profira
composta falsidade,
nem
acrescente cor duvidosa
nem dê
brilho àquilo que existe.
Isto me obriga a escutar-me. Mas
estamos aqui para falar verdade.
Sejamos autênticos.
Isto me obriga a escutar-me. Mas
estamos aqui para falar verdade.
Sejamos autênticos.
Eu quero a
exactidão aterradora,
até tremo quando penso que minto.
até tremo quando penso que minto.
Tenho de
carregar com as minhas palavras,
que me
possuem tanto como eu a elas.
Se eu não
vir bem, tu que me conheces,
diz-me da minha mentira, indica-me
a imposturice, esfrega-me o engano.
A sério que agradeço.
Quem me dera amar e ser amado.
Sê tu a minha vista, espera-me no escuro,
divisa-me, escogita-me, abana-me.
diz-me da minha mentira, indica-me
a imposturice, esfrega-me o engano.
A sério que agradeço.
Quem me dera amar e ser amado.
Sê tu a minha vista, espera-me no escuro,
divisa-me, escogita-me, abana-me.
(Trad. A.M.)