6.2.17

Rui Knopfli (Fim de tarde no café)





FIM DE TARDE NO CAFÉ



Na tarde cor de azebre 
falávamos de coisas amargas. 
Ali, na mesa triste do café 
com moscas adejando 
sobre restos de açúcar 
e um copo de água 
morna de esquecida, 
falávamos da amargura das coisas, 
entre rostos graníticos e enxovalhados, 
entre estranhos e estranhos 
de estranhos e os que, 
nada tendo de estranhos, 
cuidam de cuidar 
o que se passa entre estranhos. 
Na tarde comprida e silenciosa 
tecíamos gestos inúteis 
e palavras entre dentes, 
mergulhados na paisagem geométrica 
do café. Do café tão cheio de gente 
e fumo e moscas e caras tristes 
e afinal tão profundamente, 
tão desesperadamente vazio.


Rui Knopfli


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