FIM DE TARDE
NO CAFÉ
Na tarde cor
de azebre 
falávamos de
coisas amargas. 
Ali, na mesa
triste do café 
com moscas
adejando 
sobre restos
de açúcar 
e um copo de
água 
morna de
esquecida, 
falávamos da
amargura das coisas, 
entre rostos
graníticos e enxovalhados, 
entre
estranhos e estranhos 
de estranhos
e os que, 
nada tendo
de estranhos, 
cuidam de
cuidar 
o que se
passa entre estranhos. 
Na tarde
comprida e silenciosa 
tecíamos
gestos inúteis 
e palavras
entre dentes, 
mergulhados
na paisagem geométrica 
do café. Do
café tão cheio de gente 
e fumo e
moscas e caras tristes 
e afinal tão
profundamente, 
tão
desesperadamente vazio.
Rui Knopfli

 
 

 
 
 
 
 
