LUZ NAS TALHAS
Havia tanta luz naquele pátio
que se podia apanhar em talhas
e guardá-la para depois, como água da chuva,
para quando as sombras durassem demasiado.
Talhas cheias de luz na dispensa
para quando a noite nos cegasse.
Era tanta a luz, que se fazia sólida
e se entancava em charcos de brasa e cal viva,
crescia em cachos delicados
que se podiam colher devagar
para quando o Inverno voltasse.
E enquanto alguém apanhava, aos montes,
escombros pela casa,
eu tomava avaramente
fios de luz
que guardava nos armários
ou naqueles poemas escritos às escondidas.
Pedro A. González Moreno
(Trad. A.M.)