26.9.16

Ernesto Pérez Vallejo (Se cair uma estrela)





SI PASA UNA ESTRELLA FUGAZ DIME TU NOMBRE



Tal vez no debía haber posado mis ojos en ti,
yo soy de esos que se enamoran tres veces al día
y ahora lo vuelvo a hacer cada vez que te recuerdo.
Ya van dieciséis en una hora.

Eres como una de esas actrices,
que consiguen con su belleza
que te acabes olvidando
de la trama de la película.
Ha sido observarte e ignorar por completo
el resto de mi vida.

Tan apretada a ti misma
que casi podía considerarse un milagro
que no te rompieras en la siguiente pisada.
Tanta curva en tan poco espacio
que incluso antes de acercarme un metro
ya me sabía a asfalto el cielo de la boca.

Y ya van veintiuna.

Has conseguido con tu presencia,
que vuelva a sentirme partícipe del género masculino.
Tan común como el carnicero de la tienda de la esquina,
tan sátiro como el viejo de la terraza del bar,
tan imbécil como el chico adicto a las abdominales,
tan obsceno como ese casado al que has girado como una peonza,
para poder luego pensar en tu culo
mientras le dice a su mujer que gima más bajo.

Eran mis ojos, los ojos del resto de los hombres,
la misma mente,
el mismo hambre.

Y he sentido la tristeza de una rosa entre las rosas,
la impotencia de un camino que se acaba en un barranco.

Te has marchado como hoja empujada por el viento,
con ese desfilar insultante solo permitido
en la estrecha pasarela de mis sueños.

Nos hemos mirado todos a la cara,
el viejo al carnicero,
yo al imbécil,
el imbécil al casado
y así sucesivamente.
Incluso en un patético instante hemos sonreído,
luego bajando la cabeza
hemos seguido con lo nuestro
como si no hubiera pasado nada.

Pero ha pasado.
Y yo ya llevo veintisiete.



Ernesto Pérez Vallejo

[Los lunes que te debo]





Eu não devia ter pousado os olhos em ti,
pois sou daqueles que se apaixonam três vezes ao dia
e agora é de cada vez que te recordo,
por exemplo nesta última hora já vou em dezasseis.

Tu és como essas actrizes
tão belas tão belas
que a gente acaba por esquecer
a trama do filme.
Comigo foi observar-te e passar a ignorar
por completo o resto da vida.

Tão cingida em ti mesma
que quase se podia haver por milagre
que não te quebrasses toda na passada seguinte.
Tanta curva em tão pouco espaço
que mesmo antes de me chegar um metro
já tinha o céu da boca a saber-me a alcatrão.

E vão já vinte e uma.

Com a tua presença tu conseguiste
que eu voltasse a encaixar-me no género masculino,
tão comum como o homem do talho da esquina,
tão sátiro como o velho da esplanada do bar,
tão imbecil como o moço viciado em abdominais,
tão obsceno como esse homem casado que fizeste
girar como um pião,
para depois se lembrar do teu rabo
enquanto diz à mulher que gema mais baixo.

Eram os meus olhos, os olhos dos outros homens,
a mesma mente,
a mesma fome.

E experimentei a tristeza de uma rosa no meio das rosas,
a impotência de um caminho que vai acabar num barranco.

Porque tu te foste como folha empurrada pelo vento,
com esse pisar insolente só permitido
na passarela dos meus sonhos.

Mirámo-nos todos na cara,
o velho e o homem do talho,
eu e o imbecil,
o imbecil e o homem casado
e assim sucessivamente.
Inclusive sorrimo-nos num patético instante,
baixando a cabeça
para depois irmos à nossa vida
como se nada tivesse acontecido.

Mas aconteceu.
E já cá cantam vinte e sete.


(Trad. A.M.)

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