Ao poente estendia-se a terra lambida e negra que o grande respiradoiro de repente aberto na ilha amontoara ali – a Queimada – com um ar de capuz de penitente envolvido num crime fantástico, e que por isso mesmo o povo chama nas ilhas “mistério”, pois todas elas são dadas a esse fadário telúrico que não teve Abel nem Caim.
A vegetação, porém, começava a ganhar o duelo travado há mais de um século entre aquele borralho negro e as forças escondidas no chão; e a urzela, o pinheiro, a ruivinha que pinta os queijos e as saias, o incenseiro da florinha cerosa e de baga melada vestiam de folhas e de pássaros a desesperada solidão.
VITORINO NEMÉSIO
Mau Tempo no Canal
(Pastoral)
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