22.2.15
Alexandre O'Neill (Seis poemas confiados/V)
(V)
Eu estava bom p’ra morrer
nesse dia.
Não tinha fome nem sede,
nem alarme ou agonia.
Eu estava tal como está
esse que perdeu a amiga,
o homem que sofreu já
tanto (nem se imagina!)
que ficou bem atestado
de fadiga
e copiou-se em alegre,
mas de uma torpe alegria,
que não era mesmo alegre,
mas alegre se fingia
só para enganar o morto
que dentro de si trazia.
Este é um modo de dizer
em que ninguém acredita,
mas não sei melhor dizer:
era assim que eu me sentia!
A solidão o que era?
O amor o que seria?
Já ninguém à minha espera,
para nenhures é que eu ia.
Eu estava bom p’ra morrer
— e ainda hoje morria…
Assim me quisesses dar
e tirar — só tu! — a vida.
Alexandre O'Neill
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