30.6.14

Raul Brandão (Quando regresso do mar)





Quando regresso do mar venho sempre estonteado e cheio de luz que me trespassa.

Tomo então apontamentos rápidos – seis linhas – um tipo – uma paisagem.

Foi assim que coligi este livro, juntando-lhe algumas páginas de memórias.

Meia dúzia de esboços afinal, que, como certos quadrinhos do ar livre, são melhores quando ficam por acabar.

Estas linhas de saudade aquecem-me e reanimam-me nos dias de Inverno friorento.

Torno a ver o azul, e chega mais alto até mim o imenso eco prolongado...

Basta pegar num velho búzio para se perceber distintamente a grande voz do mar.

Criou-se com ele e guardou-a para sempre.

– Eu também nunca mais a esqueci...


- RAUL BRANDÃO, Os Pescadores (Epígrafe)

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