Custaram ao licenciado muitas horas de insónia os primeiros dias passados no Jardim dos Buxos.
Sempre de colarinhos duros, a tratar todos da família por Vossas Excelências e a consumir papel selado em ofícios à sua repartição ministerial.
Andava com um ar tão confidencial que a prima D. Mafalda um dia perguntou se lhe tinha morrido alguém – ao que ele solícita e prontamente respondeu:
“Estudo um novo método recuperador de exportação aérea do vinho do Porto”.
D. Mafalda caiu das nuvens.
Não soube que responder.
Deixou D. Ramiro entregue às suas congeminações.
Outra vez, quando D. Raymundo descansava sob umas ramadas, apareceu-lhe o empreendedor Mirinho, que logo lhe perguntou se a Barbela estava organizada em divisórias agrárias e se acaso as parturientes recebiam seguro social.
D. Raymundo ficou vermelho e respondeu
a priori, dizendo que havia um
statu quo, que permitia um
habeas corpus a quem claudicasse
sui generis.
No entanto tinha-se estabelecido um
modus vivendi a que ele
ipso facto, dava
sine die ad urbi a sua concordância.
- “Sim, o primo percebe, tudo isto no
lato sensu”.
O Dr. Mirinho, que em latim era um zero, depois da reforma que proibira o acesso a tais línguas mortas, ficara maravilhado com as palavras de D. Raymundo.
Como era possível que um morto, e já há tantos séculos, mantivesse tão lúcida frescura da realidade rústica!
- RUBEN A.,
A Torre da Barbela, 1964, II.
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